Pobreza na terceira idade não é prioridade (Europa e Portugal)
Vamos ver os resultados de última das minhas publicações acerca pobreza na terceira idade. Tenho-me sobretudo focado no dos ingressos económicos apesar de que para entender a pobreza na terceira idade é necessário outros dois aspectos: a inflação selectiva (que afecta sobretudo as pessoas idosas) e a estabilidade do sistema de Segurança Social. (sobre estes dois aspectos gostaria de me focar em outros posts).
A publicação inteira se pode descargar aqui ( Os muito idosos Estudo do Envelhecimento em Coimbra). Trata-se dum trabalho que merece a leitura.Trata-se duma publicação que se deve sobretudo ao nosso colega Rogério Fernandes da Escola de Enfermagem de Coimbra que me convidou para fazer este trabalho a partir da base de dados que foi recolhida por ele e a sua equipa no projecto (Projeto de investigação intitulado “Os muito idosos: estudo do envelhecimento em Coimbra”, PTDC/CS-SOC/114895/2009).
A amostra recolhida não é representativa de Portugal, não obstante, considero que não deverá muito longo do que deve ser o que acontece em Portugal. Para min esta a melhor fotografia da nossa realidade em termos financeiros e possivelmente dos poucos analises acerca da pobreza na terceira idade em Portugal.
Vamos lá a isto!
Primeiro: Comparar a taxa de pobreza na terceira em Portugal com as taxa em Europa
Grafico_Taxa de risco de pobreza em Portugal e Europa
Temos dados unicamente até 2012. Na publicação, não existe um dado que agora descrevo neste post. Se analisamos dos dados de pobreza em Europa para maiores de 65 anos, esta se mantém praticamente horizontal. 4,4 pontos percentuais é pouco (mesmo pouco). Isto significa basicamente que o problema da pobreza na terceira idade não esta na agenda politica.
Segundo: Estrutura de ingressos económicos por fase etária e género
Intervalo de rendimentos | Grupo etário 75-84 anos | Grupo etário ≥ 85 anos | Total | |||||||||||||||
M | F | Total | M | F | Total | M | F | Total | ||||||||||
n | % | N | % | n | % | n | % | N | % | n | % | n | % | n | % | n | % | |
1 – 250€ | 4 | 1,3 | 17 | 3,4 | 21 | 2,6 | 4 | 3,9 | 28 | 11,9 | 32 | 9,4 | 8 | 1,9 | 45 | 6,2 | 53 | 4,6 |
251 – 500€ | 39 | 12,2 | 201 | 40,7 | 240 | 29,5 | 25 | 24,5 | 107 | 45,3 | 132 | 38,9 | 64 | 15,2 | 308 | 42,1 | 372 | 32,3 |
501 – 750€ | 89 | 27,8 | 89 | 18,0 | 178 | 21,9 | 22 | 21,6 | 34 | 14,4 | 56 | 16,5 | 111 | 26,3 | 123 | 16,8 | 234 | 20,3 |
751 – 1000€ | 58 | 18,1 | 44 | 8,9 | 102 | 12,5 | 13 | 12,7 | 18 | 7,6 | 32 | 9,4 | 71 | 16,8 | 63 | 8,6 | 134 | 11,6 |
1001 – 1250€ | 22 | 6,9 | 22 | 4,5 | 44 | 5,4 | 2 | 2,0 | 4 | 1,7 | 5 | 1,5 | 24 | 5,7 | 25 | 3,4 | 49 | 4,2 |
1251 – 1500€ | 25 | 7,8 | 19 | 3,8 | 44 | 5,4 | 5 | 4,9 | 4 | 1,7 | 9 | 2,7 | 30 | 7,1 | 23 | 3,1 | 53 | 4,6 |
1501 – 1750€ | 8 | 2,5 | 9 | 1,8 | 17 | 2,1 | 6 | 5,9 | 2 | 0,8 | 8 | 2,4 | 14 | 3,3 | 11 | 1,5 | 25 | 2,2 |
1751 – 2000€ | 9 | 2,8 | 7 | 1,4 | 16 | 2,0 | 5 | 4,9 | 2 | 0,8 | 7 | 2,1 | 14 | 3,3 | 9 | 1,2 | 23 | 2,0 |
≥ 2001€ | 28 | 8,8 | 21 | 4,3 | 49 | 6,0 | 8 | 7,8 | 3 | 1,3 | 11 | 3,2 | 36 | 8,5 | 24 | 3,3 | 60 | 5,2 |
NS/NR | 38 | 11,9 | 65 | 13,2 | 103 | 12,7 | 12 | 11,8 | 35 | 14,8 | 47 | 13,9 | 50 | 11,8 | 100 | 13,7 | 150 | 13,0 |
Total | 320 | 100,0 | 494 | 100,0 | 814 | 100,0 | 102 | 100,0 | 236 | 100,0 | 339 | 100,0 | 422 | 100,0 | 731 | 100,0 | 1153 | 100,0 |
E estas são nossas principais conclusões
Estimação e variáveis associadas à pobreza em pessoas idosas
Verificou-se que 4,6% da amostra aufere valores até 250€, e 32,3% apresenta rendimentos que variam entre os 251€ e 500€. Em Portugal no ano de 2012 o limiar de risco de pobreza anual situava-se nos 408,67€/mês (Instituto Nacional de Estatística, 2014a), o que classificaria uma percentagem significativa da amostra como pobres.
4,6% da amostra será com certeza pobres, o que não significa que outra parte a amostra não o seja.
Polarização dos recursos económicos
A curva de rendimentos económicos da amostra não segue uma distribuição normal, mais de um terço da amostra (36,9%) aufere menos de 500€. A receber valores entre os 501€ e 1000€ encontram-se 31,9% das pessoas, e dos 1001€ aos 2000€ cerca de 13%. As percentagens voltam a subir quando se passa para as reformas de mais de 2001€, com 5,2% da amostra a receber estes valores o que equivale a 60 pessoas.
E o que podemos fazer é pela pobreza na terceira idade (a nível de gestão e curto prazo) …
Optimizar o Complemento Solidário para Idoso
Os serviços deverão procurar de forma proactiva avaliar as condições das pessoas mais idosas que apresentam condições para auferir esta prestação, mas que apresentam baixos níveis literários, rede social reduzida e que não contactam regularmente com nenhuma estrutura de apoio social.
Melhoria dos Sistemas de Gestão de Casos
Uma outra medida de intervenção seria a criação progressiva de um Sistema de Gestão de Casos individuais mais eficiente, em que algumas competências poderiam ser assumidas pelas Autarquias. Assim deveria ser ponderada a criação de um sistema de identificação dos indivíduos mais vulneráveis.
E o que podemos fazer é pela pobreza na terceira idade (a nível político) …
Não a ter. O nível de pobreza das pessoas nos países é um escolha do sistema politico e dos seus cidadãos (basicamente de nos). Somos nos que escolhemos quantas pessoas queremos que fiquem fora dos sistema de distribuição de riqueza. Assim de simples.
Desde já os meus melhores cumprimentos, e convido-lhe a comentar este Post
Obrigado!
José Ignacio Martín